Para fechar os trabalhos do EMAT 2010, os magistrados participaram de um debate sobre o filme Linha de Passe, dos diretores Walter Salles e Daniela Thomaz, o qual teve a participação do roteirista George Moura e da juíza do trabalho de Minas, Mônica Sette Lopes.
Após a exibição do longa, que narra a história de quatro irmãos da Cidade Líder, periferia de o Paulo que, com a ausência do pai, precisam lutar por seus sonhos, a metáfora da trama foi discutida de forma ampla, para mostrar a relação da história contada com a realidade dos juízes.
De acordo com George Moura, o filme foi escolhido de forma adequada, pois cada um dos cinco personagens tem uma meta muito clara. “O Dario representa a possibilidade de ascensão social da família, por meio do sonho de se transformar em craque do futebol. O Reginaldo busca o pai, andando pelos ônibus da cidade, sabendo que ele é trocador. O Dinho, depois de deixar uma vida de drogas, converte-se ao evangelho e busca um caminho. E há o Dênis, que é motoboy, e tem a ambição de ascensão social imediata, vendo a possibilidade de entrar na marginalidade. Cada um tem uma meta e a Cleuza, mãe de todos, tem, no filho que vai nascer, o sonho de que seja uma menina. É um filme duro como é dura a realidade brasileira”, explicou Moura.
Traçando um paralelo com o Judiciário, a juíza Mônica Lopes apontou que metas são objetivos e que o filme mostra que, para atingir metas, é preciso passar pela vida. Ela disse que o problema da magistratura é exatamente o silêncio e a solidão do juiz em relação ao que acontece no dia a dia. “Os personagens, apesar de representarem uma família, são solitários e os juízes, de certa forma, ficam assim também. Então, sofrem com relação às metas, deixando de lado a narrativa da sua realidade”, argumentou ela.
Na percepção da juíza, os magistrados estão muito silenciosos em relação aos seus afazeres, sem comunicar a experiência vivida nas Varas, principalmente no âmbito do primeiro grau. Para ela, falta um olhar mais atento a tudo o que cerca o cotidiano do trabalho e mostrar os conflitos que surgem. “Escrevemos o roteiro da vida das partes, cujos rumos decidimos, mas não escrevemos nosso próprio roteiro de vida”, ressaltou a Dra. Mônica.
Citando a fala de um poeta, o qual disse que “metas existem para serem alvos, mas, quando o poeta fala de metas, pode ser algo inatingível”, a juíza ressaltou que, no Judiciário, é possível estar se falando de metas atingíveis ou das metas do poeta. “Então, o que temos que fazer dentro desta perspectiva? Precisamos expor mais as deficiências e nossas angústias. Não podemos apenas ficar reclamando. Estamos em um encontro de juízes de Minas e do Rio de Janeiro e fico curiosa em saber da história dos tribunais do Rio, pois é diferente da nossa história. E elas precisam ser contadas”, finalizou.
Ao final, aberto para debates, magistrados expuseram suas percepções sobre o filme.