A juíza do Trabalho Bárbara Ferrito, diretora de Cidadania e Direitos Humanos adjunta para Raça, Gênero e Diversidade da AMATRA1, falou sobre opressões enfrentadas pelas mulheres na sociedade, em entrevista à Rádio Nacional, da EBC, na sexta-feira (5). Na conversa, reprisada na Rádio MEC nesta segunda-feira (8), Dia Internacional da Mulher, a magistrada também comentou a ação da associação de lançar a coluna especial “Mulheres, por elas mesmas”, publicada durante o mês de março no site da AMATRA1. O espaço já tem dois textos publicados: “Os impactos da violência doméstica no trabalho da mulher”, da juíza Áurea Sampaio, e “A invisibilização do trabalho doméstico das mulheres”, da desembargadora Giselle Bondim.
“No exercício, as magistradas lançam luz em aspectos que são invisibilizados na vida da mulher. Então, tivemos um texto sobre violência doméstica e teremos outros sobre temas como violência sexual e trabalho de cuidado. É uma oportunidade de termos outra perspectiva além da usual sobre a questão feminina”, disse Bárbara Ferrito.
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Durante o bate-papo com Dylan Araújo, âncora do programa Revista Rio, a juíza tratou da ideia de interseccionalidade, que afirma existirem diferentes vulnerabilidades que se entrelaçam e criam experiências distintas para cada pessoa, de acordo com seus próprios marcadores de vulnerabilidade.
“O fato de ser juíza e ter privilégios econômicos em razão do cargo que ocupo não me retira a condição de negra e de mulher na sociedade, porque continuo obtendo as formas de opressão que as mulheres e as negras, em geral, sofrem. Claro que consigo atingir algumas moderações em razão do cargo, mas, sem dúvidas, ainda ostento essas opressões”, afirmou.
Pandemia intensificou vulnerabilidades das mulheres
As vulnerabilidades enfrentadas pelas mulheres foram intensificadas pela pandemia da Covid-19, pontuou a magistrada. Como exemplo, ela destacou que o trabalho de cuidados com a casa e com os filhos passa a recair ainda mais sobre as mulheres em contextos como o da crise gerada pelo coronavírus.
“Em uma situação de pandemia, isso se intensifica porque não é mais possível passar para o mercado ou para terceiros a execução desses serviços, e quando devem ser feitos dentro de casa, normalmente são prestados pela mulher”, disse. “Esse é um fator que ser juíza ou CEO de uma empresa do Vale do Silício talvez não mude tanto, porque a mulher continua não podendo usufruir de benefícios que a classe, o dinheiro ou o cargo proporcionam”, completou.
Bárbara ressaltou que a questão feminina, assim como a racial, ainda é muito invisibilizada, sendo um grande papel da Justiça instigar o debate social sobre posturas e costumes que reproduzem opressões, para viabilizar a construção de uma sociedade mais democrática. A juíza também destacou a importância de trabalhar, na magistratura, a sensibilidade sobre as vulnerabilidades.
“Procura-se, na formação do magistrado, abrir a mente para a necessidade de ser uma pessoa empática, no sentido de entender a situação do outro mesmo que não a viva. Não é possível que o magistrado possa viver todas as experiências da sociedade, mas ele pode ter empatia para entender as experiências que ele não vive. A coluna traz essa visão sensível e empática de questões invisibilizadas para muitas pessoas, fazendo com que o magistrado seja alguém capaz de sentir. Sempre falamos que a sentença judicial vem do verbo ‘sentir’, então queremos que o magistrado seja capaz de sentir experiências que ele não vive, mas que ainda assim consiga reconhecê-las e respeitá-las”, disse Bárbara.
Ouça a entrevista: