Juízas abordam a escrita como aliada da luta feminista, em lançamento de e-book

As magistradas Áurea Sampaio, Giselle Bondim, Ana Larissa Caraciki e Daniela Muller e a escritora Janaína Nascimento participaram da live de lançamento do e-book “Mulheres, por elas mesmas”, nesta sexta-feira (27). A obra reúne artigos escritos por juízas e desembargadoras que foram publicados durante o mês de março, em uma ação da Diretoria de Cidadania e Direitos Humanos da AMATRA1 pelo Dia Internacional da Mulher. No evento, as convidadas falaram sobre como a escrita criativa pode ser uma aliada na luta feminista e no combate às diferentes formas de opressões contra as mulheres. 

“Enquanto mulheres, sofremos inúmeras violências. Somos cerceadas dos nossos direitos e silenciadas desde meninas, em uma sociedade machista e patriarcal. A escrita criativa é importante por ser libertação e cura através das nossas memórias e de nossas ancestrais, das histórias que presenciamos ao longo da vida, dos filmes que assistimos, das leituras que fazemos, das músicas que ouvimos. É uma forma de quebrar os silenciamentos e fazer algo que é muito corajoso: ser quem somos de verdade. E o compartilhamento das escritas é necessário”, afirmou Janaína Nascimento.

Segundo a ex-presidente e diretora da AMATRA1 Áurea Sampaio, o principal intuito da ação era estimular que as juízas escrevessem com empatia e de forma sensível sobre um tema que envolve o Direito, “mas sem a visão da juíza e, sim, da mulher”. Áurea é autora do artigo “Os impactos da violência doméstica no trabalho da mulher”, inspirado no filme “Vidas Partidas”.

“Foi maravilhosa a ideia de abordar um assunto árido, nos incentivando a escrever de forma criativa, com olhar sensível. Foi muito bom participar e escrever. Para mim, foi um crescimento pessoal muito grande”, disse. 

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É importante dar oportunidade para os associados escreverem para além da escrita jurídica, destacou a juíza Daniela Muller. “É fundamental a proposta de falar, escrever e pensar sobre livros e filmes porque são as tecnologias do imaginário que vão formando nossa visão de mundo, dentro nos processos e na nossa vida”, pontuou. A coautora do texto “O martelo da feiticeira e o fogo de chão: uma breve análise” ressaltou que, infelizmente, o imaginário popular ainda é permeado por estereótipos que colocam as mulheres como pouco racionais, frágeis, instáveis emocionalmente e infantilizadas.

“Nunca acho tranquilo escrever, porque a mulher, de modo geral, aprende a ter vergonha. Mas, por outro lado, é um exercício, e por isso é muito importante esse espaço que a AMATRA1, não de hoje, tem dado para nos convocar a enfrentar o que aprendemos não ser nosso papel, nosso lugar. Quando compartilhamos experiências, vemos que muitas de nós vivemos as mesmas coisas e que não é um defeito ou uma inadequação. Apenas faz parte da nossa existência, principalmente nesse lugar que nos desafia a sustentar nossa palavra.” 

Ana Larissa também comemorou a experiência de poder escrever de forma não habitual, como faz diariamente nos processos judiciais. “Foi uma experiência muito bacana, estou muito feliz”, disse. A juíza produziu a resenha literária “A arma da mulher é a educação”, sobre o livro “A menina da montanha” – um relato autobiográfico da escritora norte-americana Tara Westover.

“Ao longo da nossa formação jurídica, vamos sendo condicionados a nos afastar da escrita criativa. Alguns colegas conseguem fazer uma mescla, trazendo literatura e algo mais poético para o trabalho, mas é muito difícil. Peguei muita inspiração e acho que vou conseguir sair da caixinha e começar a escrever um pouco fora da linguagem jurídica”, afirmou.

Para a desembargadora Giselle Bondim, o principal elemento para conseguir produzir textos criativos é escrever para satisfação e prazer próprios. Inspirada nos livros “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, de Martha Batalha, e “O Lado Invisível da Economia: uma visão feminista”, de Katrine Marçal, a magistrada publicou o artigo “A invisibilização do trabalho doméstico das mulheres”. 

“Sempre desqualificamos nosso trabalho. Eu diria que a Síndrome do Impostor é uma doença feminina, porque vemos tanto homem escrevendo mal, falando bobagens… Temos que pensar que fazemos algo e, se ninguém gostar, é problema de quem não gostou. Se a gente gostou, está ótimo. Temos que escrever para a gente. Se for além, ótimo; se não for, também”, concluiu.

Além dos artigos citados, o e-book “Mulheres, por elas mesmas” também reúne textos da juíza Márcia Leal – “Lar ou prisão?” – e da desembargadora aposentada Aurora Coentro –  “Conversa com as Juízas – Um ponto de vista” –, que não puderam participar do evento de lançamento. Clique aqui para baixar o e-book.

Veja na íntegra a live de lançamento do e-book “Mulheres, por elas mesmas”: