Primeiro juiz cego do Trabalho em 1ª instância tomará posse nesta sexta (26)

A posse do primeiro juiz cego em 1ª instância na Justiça do Trabalho no Brasil será  nesta sexta-feira (26). Aos 44 anos, Márcio Aparecido da Cruz Germano (à direita na foto) tomará posse no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), em São Paulo. O juiz André Villela, associado da AMATRA1, destaca o compromisso da Justiça do Trabalho com a acessibilidade e inclusão.

“É uma conquista importante porque demonstra que a Justiça do Trabalho é mais do que uma Justiça democrática. É uma Justiça igualitária que busca cada vez mais o acesso e a inclusão de todos”, disse Villela, membro da Comissão de Acessibilidade e Inclusão do TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região), com a juíza Mônica Cardoso e a desembargadora Alba Valéria (presidenta da comissão), associadas da AMATRA1. 

Em entrevista ao portal Migalhas, o juiz Márcio Cruz disse que pedirá ao TRT-2 que faça adaptações para que possa exercer bem suas tarefas. Ele pedirá que seja designado seu assistente uma pessoa que já o conheça e “seja treinada para trabalhar comigo”.  

Diagnosticado aos 4 anos com síndrome de Steven Johnson (doença grave e rara que afeta as mucosas do organismo), o juiz perdeu progressivamente a visão. Expulso da escola devido à deficiência, retomou os estudos aos 10 anos graças a um projeto de integração escolar no município de Sarandi (PR). Sob a orientação da professora Maria do Carmo, conseguiu continuar sua educação com o emprego de métodos adaptados, como resumos em Braille.

Ao ingressar na faculdade de Direito em 2002, Cruz  enfrentou novos desafios, como a falta de material didático em Braille e a resistência de editoras em fornecer livros digitais. A ajuda voluntária de colegas de curso foi fundamental, até que, no segundo ano, ele obteve um computador com leitor de tela.

Sua trajetória profissional incluiu a aprovação em concurso público para técnico judiciário da Justiça Federal da 4ª Região (Paraná). Foi o primeiro servidor cego da instituição. Posteriormente, decidiu se preparar para a magistratura. 

A inclusão de tecnologia assistiva foi essencial para sua aprovação no concurso. “O processo digital efetivamente democratizou o acesso, especificamente para as pessoas cegas”, afirmou. Ele destacou que, embora ainda haja desafios, houve uma “quebra de paradigmas” com a digitalização dos processos judiciais.

“É um processo que avançou muito em comparação ao papel. Vivemos um momento, acho que o mais importante de todos, porque hoje essas questões são vistas como importantes, elas já são discutidas e estão sendo parcialmente e progressivamente implementadas.”

Na Justiça do Trabalho já existem magistrados com deficiência visual, como o juiz aposentado Gustavo Maya, o primeiro a perder a visão na carreira. Maya ingressou em 1993, mas a perda de visão se deu apenas em 2007, após um AVC isquêmico. Ele continuou atuando com o suporte necessário até sua aposentadoria em 2012. 

No caso de Márcio Cruz, a perda de visão ocorreu na infância, antes do concurso para a magistratura, o que o torna o primeiro juiz cego a ingressar na 1ª instância da Justiça do Trabalho.

Com informações do Migalhas – Foto de capa: o presidente do TRT-9, desembargador Célio Horst Waldraff, e o até então servidor Márcio Cruz/TRT-9.

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