O Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), recebe a exposição “Escravidão Contemporânea: Leituras”, que aborda a persistente questão do trabalho escravo no Brasil. A mostra reúne ilustrações do padre e professor Ricardo Rezende e fotografias de João Roberto Ripper, cujas imagens capturam momentos do cotidiano dos trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Presente à abertura da exposição, nesta quinta-feira (28), a presidenta Daniela Muller discursou sobre a relevância da Justiça do Trabalho na concretização dos direitos sociais e sobre seu papel histórico e atual na proteção da dignidade dos trabalhadores, especialmente no contexto do Rio de Janeiro.
“Nós, enquanto sociedade, não podemos aceitar que uma pessoa trabalhe sem acesso à água potável, que não tenha condições minimamente dignas para repousar depois de tantas horas de trabalho e que não tenha alimentação. Queremos o mínimo de dignidade das pessoas que constroem a nossa verdadeira riqueza”, declarou a presidenta, que destacou a arte como ferramenta poderosa para sensibilizar e alcançar um público mais amplo.
Deputada Marina dos Santos e juíza Daniela Muller
A exposição, aberta à visitação até 12 de dezembro, é continuidade da mostra realizada no TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região), onde, anteriormente intitulada “Trabalho Escravo: Olhares”, esteve em exibição. Agora com o novo nome, a apresentação se propõe a ampliar a discussão.
A deputada estadual Marina dos Santos (PT), conhecida como Marina do MST, explicou a motivação de a Alerj exibir a exposição e lembrou que Campos dos Goytacazes (cidade no Norte Fluminense) ocupa o quinto lugar no ranking nacional de trabalho escravo, segundo o Ministério do Trabalho.
“É muito importante fomentar o debate no Brasil, sobretudo aqui no Estado do Rio de Janeiro. Principalmente agora que está sendo debatido a questão da jornada 6×1”, disse.
A deputada é autora da Lei 10.575/24, aprovada este mês, voltada ao acolhimento de vítimas de trabalho análogo à escravidão, com assistência de saúde, social e previdenciária.
As obras expostas são compostas por pinturas realizadas em técnicas como bico de pena e acrílica, além das fotografias que retratam a dureza da vida dos trabalhadores, em especial em carvoarias e fazendas. As imagens e ilustrações propiciam a leitura sensível da realidade de exploração, com gestos de resistência e resiliência diante da opressão.
Ilustração explicada pelo padre Ricardo Rezende
O padre Ricardo Rezende, doutor em Ciências Humanas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), tem uma longa trajetória de militância em defesa dos direitos humanos, com destaque para o enfrentamento ao trabalho escravo.
João Ripper, fotógrafo autodidata, também é reconhecido pelo trabalho documental voltado a questões sociais, com especial ênfase em temas relacionados ao campo.
A nova exposição propõe não apenas uma reflexão sobre o tema, mas também um convite à ação. Através da arte, ela provoca uma análise mais profunda da realidade de milhares de pessoas que ainda vivem sob essas condições no Brasil.
A mostra integra o circuito de visitação do Palácio Tiradentes.
Foto de capa: Abertura da exposição no Salão Nobre da Alerj.
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