Ana Maria Soares idealiza curso de adereços de Carnaval no São Carlos

Aposentada após quatro décadas na Justiça do Trabalho, a desembargadora Ana Maria Soares ampliou sua atuação social ao criar um projeto para a profissionalização de moradores da comunidade do São Carlos, no Rio de Janeiro. Em parceria com a Escola de Samba Estácio de Sá, ela financia cursos para a confecção de adereços e já planeja expandir a iniciativa.

O envolvimento com a escola começou após um encontro organizado por colegas na sede da agremiação. Apaixonada por bastidores do carnaval, Ana Maria propôs ao presidente da escola que fosse criado um curso para formação de aderecistas. Com recursos próprios, ela garantiu a contratação de um professor e o pagamento de bolsas para os participantes.

A aposentadoria da desembargadora do TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região) foi publicada no Diário Oficial em 2022. A associada da AMATRA1 ingressou na magistratura em outubro de 1981 como juíza substituta, atuando em diversas Varas do Trabalho na Capital e na Baixada Fluminense até ser promovida, em maio de 1988. Ao longo da carreira, foi titular de seis Varas do Trabalho, incluindo unidades em Niterói e Araruama, antes de sua promoção ao cargo de desembargadora em dezembro de 2002.

No Tribunal, a magistrada exerceu funções de destaque, como vice-corregedora no biênio 2011-2013 e vice-presidente na gestão 2015-2017. Também presidiu a Comissão Executiva de Enfrentamento à Exploração do Trabalho em Condições Análogas à Escravidão e ao Tráfico de Pessoas do TRT-1.

Feijoada do Leão

Neste próximo sábado (8), a juíza Ana Maria participará da Feijoada do Leão, que será realizada na quadra da Estácio de Sá, Vila Salvador de Sá, 206, na Cidade Nova. 

Com início às 13h, o evento da escola de samba contará com uma homenagem ao músico Valmir do Cavaco e a presença das escolas convidadas Paraíso do Tuiuti e Tradição. A entrada é de R$ 10.

Divulgação/Estácio de Sá

A seguir, entrevista com Ana Maria Soares

AMATRA1: Como surgiu sua conexão com a Escola de Samba Estácio de Sá e o trabalho social que realiza?

Ana Maria Soares: Quando me aposentei, a juíza Adriana Leandro promoveu um encontro com os meus colegas na Escola  Estácio de Sá. Ela já sabia que eu gostaria de trabalhar em uma escola de samba, gosto do bastidor, não de aparecer. Eles me deram um troféu. 

Na semana seguinte, voltei à escola e disse ao presidente que eu gostaria de participar de alguma forma, colaborando com uma escola, na parte do ateliê. Combinei de arcar com as despesas de um professor de adereço para ministrar o curso  na comunidade. 

AMATRA1: Qual é a importância desse curso para a escola de samba e para os beneficiados?

Ana Maria Soares: Esse curso não só propicia às pessoas da comunidade o aprendizado para fazer adereços da escola  de samba, como também para confeccionar bolsas, arcos, brinquedos, que podem vender em feirinhas. Não está limitado à comunidade de São Carlos, que é a comunidade da Estácio. É voltado para pessoas carentes, para que elas aprendam um ofício e possam trabalhar. 

O ano de 2024 foi muito produtivo, fizemos um curso só de adereços. Ao todo, 24 alunos se habilitaram e, no final, restaram 19 que até hoje trabalham para a escola, fazendo os adereços que serão usados nas fantasias. 

Deu muito certo, porque a escola é uma pobre e me prontifiquei a pagar os alunos para fazer os adereços. Então, não só estou colaborando com a escola, como estou colaborando com 19 pessoas da comunidade.  

AMATRA1: O que te motivou a se envolver com trabalhos sociais na comunidade? 

Ana Maria Soares: Isso já era uma tendência minha, tinha uma ligação com  escola de samba. Fui criada numa família onde o carnaval não era considerado algo reprovável, mas sim um evento de alegria e democrático. É onde não existe nenhum tipo de restrição a ninguém. A cor, a raça, são todos misturados, e todos se respeitam. Isso é uma coisa que aprendi na minha infância com meus tios. 

AMATRA1: Como a senhora se sente hoje como integrante da escola de samba?

Ana Maria Soares: A Estácio é uma grande família, em que há muito respeito e todos trabalham em função da escola. Então, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida depois de me aposentar. Após 41 anos de Justiça do Trabalho, hoje estou muito satisfeita. 

AMATRA1: De que forma a sua vivência na Justiça do Trabalho influenciou seu olhar sobre projetos comunitários?

Ana Maria Soares: Quem procura a Justiça do Trabalho tem uma tendência a gostar de fazer projetos para a comunidade, porque ela é uma das justiças que mais se preocupa com o social. E uma coisa que descobri é que escola de samba é um lugar de geração de muitos empregos, diretos e indiretos. Então, isso me faz mais feliz ainda. 

AMATRA1: Além do curso de adereços, há outros projetos sociais que você pretende apoiar ou desenvolver?

Ana Maria Soares: Em 2025, a pedido do atual presidente da escola, que é cozinheiro por profissão, estarei contando com a ajuda dos meus colegas para patrocinar também um curso de culinária para a comunidade do São Carlos.

AMATRA1: Quais conselhos a senhora daria para os magistrados ainda em atuação?

Ana Maria Soares:  Eu aconselho a quem se aposenta a fazer aquilo que teve vontade de fazer a vida inteira e nunca fez, porque foi o que aconteceu comigo. 

Sempre tive vontade de entrar no barracão de uma escola. Desfilar ou não é o menos importante. Estar no bastidor de uma escola de samba é o mais importante. 

Foto de capa: Desembargadora Ana Maria Soares ao lado do presidente da Estácio de Sá, Edson Marinho, e ex-integrante da escola.

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