Magistradas da AMATRA1: mulheres protagonistas na Justiça do Trabalho

Quatro histórias, quatro exemplos de como as mulheres têm conquistado e redefinido seu espaço na Justiça do Trabalho do país. Associadas da AMATRA1, a desembargadora Evelyn Correa Guimarães, a juíza titular Maria Alice de Andrade Novaes, a juíza substituta Maria Zilda dos Santos Neta e a juíza aposentada Astrid Silva Britto compartilham reflexões sobre as vitórias e os desafios enfrentados num cenário de transformação em que a presença feminina cresce nos tribunais. Desde 2020, juízas representam metade dos magistrados à frente de varas trabalhistas de primeira instância, de acordo com dados da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho.

“A magistratura é um sacerdócio, é preciso ser realmente motivada para exercer a função, porque exige uma dedicação intensa, o que prejudica a vida social como um todo. Nós, mulheres, precisamos  aprender a equilibrar tudo para tentar ser uma pessoa completa porque acumulamos muitas outras tarefas, além da tarefa profissional propriamente dita”, afirma Evelyn Correa de Guimarães, que ingressou no Tribunal Regional do Trabalho em 1993 e foi promovida a desembargadora em 2022. 

Ela destaca como grande desafio o período em que conciliou a maternidade com os processos judiciais sob sua responsabilidade. Hoje representante da Subseção Especializada em Dissídios Individuais II (SEDI – II), Evelyn relembra que, quando foi promovida à juíza titular,  estava grávida de seu segundo filho e com o primeiro ainda pequeno. “Ainda tive dois outros filhos, completando quatro crianças. O acúmulo de trabalho era muito grande, mas sempre procurei dar o meu melhor  tanto para a minha família, quanto para o  meu trabalho”. 

Maria Alice de Andrade Novaes, juíza titular da 50ª Vara do Trabalho, também destaca que a rotina é sempre mais difícil e complexa para as mulheres que, por questões culturais, tendem a acumular  mais funções do que os homens, sobretudo com cuidados com os filhos e a casa.    “Quase tudo é atribuído à mãe, à mulher, e isso sobrecarrega bastante. É um desafio muito grande conciliar, conseguir administrar essas dificuldades. Mas, com paciência e muita boa vontade, a gente acaba conseguindo”, diz  Maria Alice, acrescentando que a rotina exaustiva acontecia em paralelo à sua chegada à 4ª Vara, que tinha uma estrutura precária, e que sua vida só melhoraria ao assumir a 50ª Vara, onde pôde contar com melhores condições de trabalho e conseguiu montar uma equipe coesa e organizada. 

“Quando você é mulher e jovem, eu penso que os desafios são diários. O tratamento também é um pouquinho diferenciado. Os advogados acabam tentando testar o seu conhecimento e sua postura nas audiências. E nem sempre é fácil ultrapassar essas barreiras. Percebo que, talvez com juiz homem, eles sejam um pouco mais tranquilos no trato”, observa Maria Zilda dos Santos Neta, que iniciou sua carreira na Justiça do Trabalho como servidora e hoje é juíza-substituta na Baixada Fluminense.

Juíza aposentada, Astrid Silva Britto diz que o movimento feminino dentro da magistratura é um longo percurso que  exige de cada mulher disposição para  vencer batalhas diárias. Para a magistrada, é preciso ser resiliente e manter a coragem diante das dificuldades, o que vai ser recompensado com realização pessoal e contribuição efetiva para a sociedade e para a Justiça. “Os maiores desafios são conciliar a maternidade, o trabalho fora e os estudos  para concurso. Acredito que, assim como eu, outras mulheres também passaram e por essa experiência”.

A juíza aposentada destacou a importância do apoio da associação, que sempre lhe proporcionou uma sensação de representatividade e pertencimento. Ela enfatizou que essa rede de apoio é fundamental para superar os obstáculos que surgem pelo caminho até a profissional alcançar seus objetivos e  ser reconhecida e valorizada, seja no tribunal ou em qualquer ambiente de trabalho. 

Mês Internacional da Mulher e a Mulher na Magistratura

Março é um convite à reflexão sobre os avanços e os desafios das mulheres na sociedade. O dia 8, em especial, simboliza as conquistas femininas, mas também reforça que ainda há um longo caminho para superar barreiras, especialmente em ambientes historicamente dominados por homens, como o judiciário.

Na magistratura, a presença feminina cresce a cada ano, mas as mulheres ainda enfrentam o desafio de conciliar a carreira com a vida familiar, além de lidarem com estigmas e desigualdades de gênero.

Mais do que uma data, o 8 de março é uma oportunidade de reconhecer e homenagear a trajetória de mulheres que dedicam sua atuação à Justiça e a tantas outras áreas, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária.

Foto de capa: Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Evelyn Correa, Maria Alice de Andrade, Maria Zilda e Astrid Britto.

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