19 de abril de 2022 . 10:59

Aposentada após 37 anos na JT, Áurea Sampaio seguirá ativa na AMATRA1

A dedicação à Justiça do Trabalho e ao movimento associativo fez parte do dia a dia de Áurea Regina de Souza Sampaio na maior parte de sua vida. Após 37 anos de serviços prestados nos cargos de servidora e magistrada, a ex-presidente e atual diretora da AMATRA1 se aposentou em março. Sem novos planos profissionais, ela garante que permanecerá na luta pelos direitos dos juízes e das juízas trabalhistas, junto à associação. 

Natural de Pernambuco, Áurea ingressou no TRT-6 (PE) em outubro de 1984, antes mesmo de cursar a faculdade de Direito: formada em Economia pela UFPE, foi empossada na função de auxiliar judiciário. Três anos depois, precisou se mudar para o Rio de Janeiro e foi requisitada pelo TRT-1, atuando na 26ª Vara do Trabalho, mas ainda vinculada ao Tribunal pernambucano. No Rio, se formou em Direito na Faculdade Bennett e, em 1993, prestou novo concurso, agora para o TRT-1. E foi atuando no cargo de analista judiciária que surgiu o sonho de entrar para a magistratura trabalhista.

“Na universidade, tive mais contato com o Direito do Trabalho, com a importância desse ramo do Judiciário e como poderia contribuir para a evolução da Justiça. Migrei da vara para o segundo grau, trabalhando como assistente. Fazia muitas minutas de votos, passando a ter mais contato com o Direito do Trabalho em si também, já que, na vara, lidava mais com cálculos de liquidação. A partir daí, tive cada vez mais vontade de lidar diretamente com aquilo, fazendo minhas próprias decisões”, afirma.

A posse como juíza substituta veio em outubro de 1997. Atuou em diferentes varas do Trabalho, tendo ficado maior tempo nas 49ª e 71ª da capital. Foi promovida à titularidade em setembro de 2016, assumindo a 2ª vara de Campos dos Goytacazes. Posteriormente, foi removida para a 34ª vara do Trabalho Rio e, por último, para a 49ª, em agosto de 2020. 

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Áurea considera exitosa sua trajetória na magistratura, em especial, por dois motivos: ter desenvolvido seu trabalho nas varas com tranquilidade, e por ter mantido a atuação profissional diretamente ligada à participação no movimento associativo. “Não consigo conceber minha vida como juíza sem essa participação ativa na associação. Minha trajetória necessitava dessas duas atuações, em conjunto. E, ao olhar para trás, posso dizer que valeu muito a pena. Acredito ter feito boas contribuições.”

Atualmente à frente da Diretoria de Aposentados, sua primeira posse como diretora da AMATRA1 foi em 2001, com o grupo encabeçado pelo magistrado Cláudio José Montesso. A partir de então, fez parte de várias outras diretorias, em diferentes cargos. Para ela, “a atividade associativa é imprescindível”, já que a instituição assume o papel de ser a voz dos juízes na defesa de suas prerrogativas, além de ter fundamental função social.  

Desde 2001, Áurea Sampaio (de branco) participa de diretorias da AMATRA1

Em dezembro de 2011, dez anos após sua estreia no quadro de diretores, Áurea assumiu a Presidência da AMATRA1. Os desafios do período em que geriu a associação, ela afirma, foram diários e inúmeros. A chegada do PJe para o Judiciário trabalhista foi uma das adversidades que precisou ser enfrentada pela gestão.

“Assim que começou a ser instalado, tivemos muitos problemas e a associação precisou atender a todos. Sofremos, inclusive, críticas da advocacia porque a Justiça passou por um momento de lentidão, durante a fase de adaptação”, conta.

Outro acontecimento especial e que demandou muita dedicação de Áurea enquanto presidente da associação foi a comemoração dos 50 anos da entidade. Em maio de 2013, foi promovida uma grande festa de aniversário.

“Por coincidência, durante minha primeira participação na diretoria, em 2003, estávamos comemorando 40 anos da AMATRA1. Agora, estou novamente na diretoria e, em breve, vamos comemorar os 60 anos. Fui acompanhando o desenvolvimento da associação e sua luta, que seguirá por um mundo melhor e um direito do trabalho e Judiciário fortes.”

Agora, seu principal foco de atuação na entidade é resgatar direitos que foram retirados dos aposentados ao longo dos últimos anos. Também pretende ser firme na conscientização dos magistrados em atividade na jurisdição e no movimento associativo sobre a importância dos aposentados – “que sempre foi reconhecida, mas é preciso enfatizá-la”. “A contribuição que demos em todos esses anos não pode ser esquecida. É preciso que os aposentados estejam presentes nessa luta com as pessoas da ativa. Juntos, podemos ser muito mais efetivos em todas as batalhas que travamos”, destaca. 

Ativa em ações da AMATRA1, Áurea Sampaio permanecerá atuando na associação após aposentadoria

Para Áurea, “é uma grande honra representar os aposentados em momento tão difícil de retrocessos e desrespeitos como o que o Brasil está passando”. Ela ressalta que, desde a Reforma Trabalhista de 2017, houve uma inversão da lógica do Direito do Trabalho, resultando em uma realidade de ataques, retirada de direitos e precarização do trabalho.

“Vejo tudo isso com tristeza, mas com disposição para expor essa situação. E só conseguimos fazer isso falando, atuando na associação, mostrando às pessoas onde estão os erros de toda a mudança legislativa que foi feita e que, espero eu, poderá ser revertida em um futuro breve.” 

Um conjunto de fatores – como as pressões que a classe vinha passando e a pandemia da Covid-19 – colaborou para a juíza escolher pela aposentadoria, concretizada em 9 de março de 2022. Áurea afirma que, após tantos anos de trabalho, não tem a intenção de exercer outras atividades profissionais em um futuro próximo. Bem-humorada, usa o trecho de um conhecido samba para ilustrar a nova fase de sua vida: “Quero tranquilidade. Vou deixar a vida me levar, como faz Zeca Pagodinho”. 

A única certeza, Áurea garante, é a continuidade de seu empenho no movimento associativo. “Faz parte da minha vida. É uma atividade que eu gosto, que considero importante e que me revitaliza e dá alegria, força e energia. Acho que isso não vou deixar de fazer nunca”, conclui. < VOLTAR