01 de dezembro de 2021 . 14:01

Músicos da Orquestra Maré do Amanhã participam de live com magistradas

A música como instrumento de transformação social foi o tema da live promovida pelo Programa de Combate ao Trabalho Infantil do TRT-1, nesta terça-feira (30). O fundador do Projeto Orquestra Maré do Amanhã, maestro Carlos Eduardo Prazeres, o maestro Filipe Kochem e outros três músicos da iniciativa formada por jovens de comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, falaram sobre a experiência de mudar a realidade do local através da arte. Com transmissão no canal do Tribunal no YouTube, o evento foi mediado pela 2ª vice-presidente da AMATRA1, Adriana Leandro, e pela desembargadora Ana Maria Moraes, diretora do Centro Cultural do TRT-1.

“O encontro foi muito legal. Fico orgulhosa em saber que temos brasileiros e brasileiras tão talentosos. Precisamos divulgar esses talentos e torcer para que cresçam e voem o mais alto possível. No que depender da Ana, que é uma entusiasta da música, e de mim, que carrego a bandeira contra o trabalho infantil, isso será feito”, afirmou Adriana, gestora de 1º grau do Programa de Combate ao Trabalho Infantil.

Para a desembargadora Ana Maria, é necessário conhecer a realidade e os bons resultados produzidos nas comunidades. “Esses jovens são motivo de orgulho para todos nós. Não acreditem em diferenças, acreditem em vocês. Somos da Justiça do Trabalho e tudo que é humano nos interessa.” 

Criado em 2010, o projeto ensina música clássica a crianças e adolescentes de favelas do Complexo da Maré. Foi através de um drama familiar que o maestro Carlos Eduardo Prazeres teve a ideia de começar a ação. Filho do maestro Armando Prazeres, criador da Orquestra Petrobras Sinfônica, abandonou a carreira no jornalismo para acompanhar o pai no objetivo de levar cultura para as comunidades. Após a morte de Armando, assassinado em 1999, passou algum tempo elaborando como manter vivo o sonho do pai, e escolheu a favela da Maré como cenário para isso.

“Encontrei o maestro Júlio Siqueira, que era assistente dele nos corais e me apresentou o Filipe. Fomos para a Maré na cara e na coragem, sem conhecer ninguém. Desde o início, tínhamos um plano bem definido: nós não somos da Maré; então, queremos que os meninos e meninas da Maré transformem o lugar”, contou.

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Quando chegam à orquestra principal, os jovens recebem uma bolsa de incentivo, fazem cursos para se formarem professores capacitados e começam a dar aulas para as crianças pequenas da Maré. O resultado é a quebra do paradigma de violência que crianças e adolescentes do local estavam acostumados a presenciar, explicou Carlos. 

“Conseguimos fazer esses alunos se tornarem celebridades na Maré. Já tocaram no Vaticano, para o papa; com a Anitta, no Ano Novo de 2017; desfilaram com a Beija-Flor; e  foram enredo de um episódio do Sob Pressão. Hoje, quando chegam à sala para dar aula, um menino que tinha como exemplo de glória a pessoa com a pistola na mão, começa a ver que é possível vencer na vida sem armas.”

Filipe abraçou o plano de Carlos em levar a profissionalização da música para a Maré. “Estou há 11 anos no projeto, desde o primeiro dia, e é uma alegria. Participei da formação de jovens que, hoje, são meus colegas de trabalho”, disse.

Advogado, ele também trocou a carreira pela dedicação exclusiva ao projeto. “Para continuar, era necessário ter interesse dos alunos. Em dois meses, vimos talentos que eu não tinha visto em 20 anos dando aula. Vimos a vontade e a mudança de comportamento. A mudança foi tão rápida que me cativou e vi que poderia dar frutos. Começamos com 20 alunos e agora temos 4 mil.”

Atualmente, a orquestra principal tem 45 integrantes, com instrumentos de cordas, violinos, viola, contrabaixo e violoncelo, instrumentos de sopro e percussão.

Músicos relatam experiência com a orquestra

Eduarda conta que a música transformou a realidade de muitas famílias da comunidade, assim como aconteceu em sua vida. Aos 23 anos, ela é uma das professoras. “A chegada do projeto fez total diferença porque eu não tinha muita expectativa do que seria. Queria ser professora, mas não sabia de quê. Desde os 16 anos me sustento da orquestra e acho que dá, sim, para viver da música”, afirmou.

Incentivado pela mãe a participar da orquestra, Caio Fiama viu na música uma oportunidade de se conhecer melhor. Morador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi bem recebido na Maré. “As pessoas da comunidade e da orquestra foram muito acolhedoras. Faço parte do projeto há sete anos e o alcance social é muito grande.”

Eduardo Viana entrou para a orquestra no início de 2020 e passou por alguns desafios impostos pela pandemia, como problemas com a conectividade da internet, para seguir na iniciativa. Violinista, faz parte do grupo principal de músicos. “A orquestra tem um grande futuro e potencial, ajuda muitas pessoas. Me ajuda na minha evolução musical, o que é muito bom, mas também é ótimo levar oportunidade para outras pessoas que, assim como eu, vão poder aproveitar”, destacou.

Os maestros e músicos também falaram sobre o dia a dia de aulas com os alunos, da importância do acesso à música, de como o projeto é mantido e das conquistas, desde sua fundação até o presente. Ao final, Eduardo e Caio apresentaram algumas músicas com o violino.

Veja a live na íntegra:
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