O conflito entre vida pessoal e o trabalho de magistrados foi um dos temas debatidos na live cultural da AMATRA1, nesta sexta-feira (17). Os magistrados Fabiano Luzes, do TRT-1, e Germana Morelo, do TRT-17, analisaram o filme “Um ato de esperança”, com mediação da juíza Patrícia Lampert, diretora da associação. O debate foi transmitido pelo Facebook e pelo YouTube da AMATRA1.
Baseado no livro “A Balada de Adam Henry”, de Ian McEwan, o filme conta a história da juíza da Alta Corte britânica Fiona Maye, que julga casos complexos sobre família e enfrenta problemas em seu casamento. Em um dos casos, ela precisa decidir se um jovem com leucemia deve ou não receber transfusões de sangue, enquanto o jovem, por motivos religiosos, rejeita o tratamento.
A partir da obra, Luzes analisou as consequências da atuação dos magistrados em suas vidas pessoais. “O filme fala sobre uma pessoa que decide, mas também de uma pessoa que vive. E me fez refletir sobre a quantidade de figuras que existem dentro de mim. Somos muitos ao mesmo tempo, mas as pessoas tendem a nos ver como juízes o tempo todo. As pessoas não conseguem nos enxergar como indivíduos, com as nossas questões. Mas, como indivíduos, temos os nossos problemas, que não são poucos”, pontuou.
Segundo Patrícia Lampert, o longa é muito rico e permite muitas abordagens, como questões relacionadas a envolvimento e distanciamento de magistrados com os processos, e vida pessoal e profissional.
“Não é um filme jurídico, embora trate de uma juíza e de casos. Mostra muito sobre bastidores e como funciona a construção de um processo decisório. Porque depois que veem a sentença pronta, não vê o trabalho por trás, o sofrimento. É muito difícil não levar a dor do processo para a casa, conseguir dar a decisão e se desprender dela.”
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A imparcialidade também foi um ponto de destaque para Germana Morelo. De acordo com a interpretação da vice-presidente da Amatra 17, a juíza Fiona se pauta neste conceito. A atitude de ir ao hospital visitar o jovem envolvido no processo e se questionar em outros momentos se foi ou não um ato correto é um exemplo disso, indicou Germana.
“Ela se confunde um pouco sobre neutralidade e imparcialidade. O juiz tem que ser, necessariamente, imparcial, mas não pode ser neutro. Porque carrega consigo toda uma bagagem ideológica, de conhecimento e de vida, e tem que expressar isso em cada decisão que dá, pois é isso que o difere da máquina”, disse.
Fabiano Luzes destacou ser preciso buscar o equilíbrio entre os diferentes aspectos da vida no cotidiano. “O filme demonstra isso muito bem. Precisamos buscar pelo equilíbrio em nossa vida pessoal e em todos os nossos atos. Essa é a grande demanda de nossa sociedade. O ponto ideal é o meio, o equilíbrio entre o conjunto de forças.”
Para Patrícia, a magistratura é um desafio constante, que nunca se torna mais fácil. “Somos surpreendidos e desafiados constantemente. Devemos manter o exercício de distância e aproximação, ouvir o outro e saber manter a distância. E que possamos ser imparciais, mas sem cairmos na indiferença. É um equilíbrio.”
Germana apontou ser necessário que os magistrados continuem colocando, nas sentenças e julgamentos, “um pouco de humanidade, na urgência que exigem, principalmente agora, na pandemia”. “Precisamos ter em mente as diferenças entre simplesmente julgar e fazer justiça. Nossas decisões impactam vidas”, completou a juíza.
Veja a live na íntegra: