Para Coutinho, o trabalho escravo se perpetua devido a condições que não foram superadas. Ele cita o latifúndio como um elemento estrutural que permite a exploração dos trabalhadores. “Ao contrário de países como a França, que realizaram sua transição para o capitalismo por meio de revoluções com participação popular, transformação social a partir de baixo, que suprimiu o latifúndio, essas transformações sociais no Brasil se deram sempre pelo alto, por meio de acordos entre as velhas elites e as novas elites, sem participação popular e sem ruptura com o passado”, afirmou.

Daniela Muller refletiu sobre o poder do discurso e da linguagem na comunicação e falou sobre a perspectiva incomum empregada pela narradora do filme, que dá voz aos trabalhadores e trabalhadoras, muitas vezes invisibilizados e marginalizados na sociedade.
“Quantas novelas e filmes já vimos em que essa história seria contada talvez pelo dono da fazenda, por um filho rebelde do dono da fazenda que está em crise com o pai? Os grandes narradores também são os trabalhadores e trabalhadoras. E isso talvez seja a nossa grande peculiaridade, marca. Quem conta a primeira história, quem começa os processos em regra, são as pessoas que trabalham nisso”, afirmou Daniela Muller.

“A Justiça do Trabalho tem um papel fundamental: somos os responsáveis por estabelecer a regulamentação que traz uma compreensão dessa dimensão humana dos trabalhadores e trabalhadoras que são submetidos a essa situação”, disse a presidenta, para quem o trabalho muitas vezes se torna uma forma de exploração aviltante, devido à discriminação e ao assédio.
Renato Barbieri defendeu o olhar que valoriza a singularidade de cada indivíduo e a riqueza de suas histórias. “O filme traz para a visibilidade o que está na invisibilidade. Se sairmos agora e encontrarmos uma pessoa preta, na rua, jogada na calçada como um saco de lixo, essa pessoa tem uma história. E é uma história de desastres, que começa lá na diáspora africana, onde as famílias foram desmembradas e sequestradas. E tem um valor, porque toda história tem valor. É uma história de resistência, de sobrevivência”, afirmou.

Ao mencionar a representação da história das mulheres, dos indígenas e dos afrodescendentes, ele falou como o racismo e o sexismo na sociedade desvalorizam esses grupos. Segundo ele, é preciso descolonizar “mentes e corpos” para questionar as estruturas de poder e as formas de dominação que ainda persistem.
Foto de capa: Daniela Muller com o diretor Renato Barbieri e o professor Eduardo Granja Coutinho.
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