Ir à empresa só duas vezes na semana, acordar mais tarde e ter mais tempo para ir à academia ou fazer cursos de idiomas. Essa passou a ser a rotina do bancário Albérico Costa, de 48 anos, que trabalha no setor de Enterprise Risk Management, do Citibank. Ele faz parte de um grupo de funcionários que, desde janeiro de 2009, começou a trabalhar em casa como parte de um projeto da empresa.
O trabalho a distância no Citibank, conhecido internamente como AWS (Alternative Work Strategies), começou como um piloto em setembro de 2008 envolvendo 16 pessoas. Atualmente, são mais de 300 pessoas atuando três dias de casa e dois na empresa.
Antes de iniciar o trabalho remoto, Costa pegava um ônibus e o metrô, gastando, em média, uma hora para chegar ao escritório. Um tempo até curto se comparado com o que outros colegas que moram em lugares mais distantes levam: pelo menos duas horas no trânsito.
– Agora, tenho que enfrentar este trajeto apenas duas vezes na semana ou quando há alguma situação que exija minha presença na empresa.
Segundo o bancário, as vantagens do trabalho remoto são muitas, como acompanhar a rotina da casa e a educação dos filhos, algo que seria muito mais difícil se tivesse que estar diariamente no escritório.
– Quando estou em casa, sinto que o meu trabalho rende mais. Talvez porque não haja o estresse do trânsito, minha mente fica mais calma, tranquila para produzir. Acredito que um outro fator positivo é que em casa há mais concentração. No escritório, os inúmeros telefonemas, as conversas paralelas, colegas falando alto ao telefone, tudo acaba tirando a minha atenção da atividade.
Assim como Costa, mais de 19,9 milhões de teletrabalhadores no país (segundo dados do Censo de 2010, divulgados semana passada), passaram a ter, desde de dezembro do ano passado, os mesmos direitos trabalhistas que qualquer outro funcionário que trabalha dentro da empresa. Com a promulgação da Lei 12.551/2011, que modifica o artigo 6º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e regulamenta o trabalho à distância no Brasil, a expectativa é que este número aumente, já que o interesse das empresas por este tipo de relação trabalhista deve crescer.
Como bem lembra Álvaro Mello, presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) e professor da Business Scholl São Paulo (BSP), nem todas as empresas formalizaram a atividade ainda, por medo de serem consideradas ilegais. Ele prevê que, com a nova lei, esta mentalidade vai acabar e haja um aumento de 30% no número de empresas interessadas em adotar esta modalidade.
– Agora, algumas empresas já estão formalizando esta atividade e, inclusive, adotando medidas administrativas para regularizar a questão das horas extras, voltadas aos colaboradores que usam smartphones, computadores portáteis, rádios ou outros meios telemáticos – acrescenta Mello.
No caso de Costa, do Citibank, há um aditivo ao contrato de trabalho assinado entre as partes onde os funcionários que fazem parte do programa de trabalho remoto têm que manter a mesma carga horária estalecida pelo banco para aqueles que ficam na empresa, não tendo direito a qualquer flexibilidade de horário de trabalho.
Contact centers, os maiores empregadores de teletrabalhadores
Entre os maiores empregadores de teletrabalhadores no Brasil estão os contact centers. De acordo com a Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), o setor já contava, em 2011, com 1,4 milhão de funcionários.
– É um mercado pujante e extremamente competitivo, que inclui de gigantes com mais de 78 mil colaboradores a pequenas empresas, com poucas dezenas de funcionários – diz o presidente do Cetel, autor de uma tese de doutorado sobre o uso do trabalho remoto nas empresas de call e contact center.
Na sua opinião, a nova lei possibilitará a inserção de um número maior de profissionais com deficiência no mercado. Com isso, de quebra, vai auxiliar as empresas a cumprirem a Lei de Cotas.
– As empresas podem começar a adotar o teletrabalho como forma de proporcionar mais qualidade de vida para os funcionários e dar oportunidade de emprego para pessoas com necessidades especiais – ressalta ele.
Aqui no Brasil, há diversas organizações que adotam o teletrabalho, embora muitas não assumam como tal. As principais áreas de atuação são vendas, consultoria, engenharia e prestadores de serviços, principalmente na área de Tecnologia da Informação, executivos de grandes empresas e, mais recentemente, televendas/tele-atendimento (call centers). Até mesmo o TST decidiu regulamentar o teletrabalho entre seus servidores.