
Juíza aposentada do Trabalho, a artista visual Edna Kauss apresentará seu novo trabalho na mostra coletiva “Indícios”, a partir deste sábado (28), no Paço Imperial, Centro do Rio. Na obra “Interdito”, a artista emprega a proposta estética de trabalhar com instalação de luzes para dialogar com uma das questões sociais mais latentes na sociedade brasileira atual, a restrição de direitos.
“Toda esta turbulência que acontece no Brasil me influenciou. Principalmente a questão da desigualdade. Às pessoas são negados muitos direitos. Aos afrodescendentes, à população de rua, aos cidadãos que não têm trabalho, às mulheres, às pessoas por sua orientação sexual. A redução das leis trabalhistas é uma das causas dessas desigualdades”, diz.
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Nesse trabalho, a magistrada usa lâmpadas verdes e vermelhas de 2,5 milímetros de diâmetro para evidenciar espaços e possibilidades inacessíveis à grande parcela dos cidadãos brasileiros. As luzes formam uma figura geométrica no qual as lâmpadas vermelhas servirão para interditar o acesso a um ambiente verde, representando o espaço de direitos negados.
“É a interdição do indivíduo e dos núcleos comunitários ao gozo de seus direitos. São todas estas impossibilidades, arbitrariedades e absurdos que acontecem no Brasil atualmente. Porque ao Estado policial não basta privar a pessoa de sua liberdade, precisa fazer mais maldades.”
“Elaboro minhas obras mentalmente”
A criação artística de Edna Kauss sempre esteve ligada à tridimensionalidade. Desde 2007, ela se dedica a trabalhos com luz, como as exposições individuais “De Dentro para Fora” e “Percurso Luminoso 3”. A artista conta que não possui habilidades para desenhar e pintar e que seus trabalhos são um exercício mental.
“Não posso expressar minha visão artística pelo que eu não sei. Elaboro minhas obras mentalmente. Trabalho muito com maquetes. Conheço o espaço onde vou expor, meço tudo e reproduzo em escala menor. Depois conto com um profissional que me auxilia na montagem da obra”, explica.
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O interesse pela arte sempre esteve presente em sua vida, mas Edna só passou a se dedicar aos cursos e práticas artísticas após a aposentadoria, em 2000. A vida profissional como advogada e, a seguir, como juíza substituta no TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região) tornava inviável o exercício das duas atividades.
“Desde sempre tive aptidão para as artes. Trabalho com arte desde 1987, mas tinha que compartilhar com a vida profissional. Ficava muito difícil. Recomecei após a aposentadoria. Fui para o Parque Lage cursar história da arte e oficinas de esculturas. Hoje, trabalho com arte. Não é uma atividade para distrair ou passar o tempo.”
Exposição começa neste sábado no Paço Imperial
A mostra “Indícios” reunirá 28 artistas. Ela resulta de quatro meses de imersão em questões da arte contemporânea por meio de palestras, vídeos, apresentações e debates no curso “Imersões Poéticas”, do grupo Escola sem Sítio.
As obras ficam expostas no Paço Imperial a partir deste sábado até 26 de agosto, das terças às sextas-feiras (entre 12h às 19h), e sábados e domingos (das 12h às 18h). O Paço fica na Praça 15. A entrada é franca. Mais informações pelo telefone (21) 2215-2093 ou pelo site Amigos do Paço Imperial.