Lançada em 2016, a obra de Belisário Franca mostra a investigação do historiador Sidney Aguilar sobre a fazenda Santa Albertina, explicitamente nazista em um passado recente do Brasil. Durante as filmagens, descobre-se que o dono dessa fazenda do interior de São Paulo levou 50 crianças órfãs e negras do Rio de Janeiro para prestar serviços em condições análogas às de escravizados, nas décadas de 1920 e 1930.
“Além da reconstrução de um período da história do país, o documentário desconcerta ao evidenciar a infeliz contemporaneidade que ainda se apresenta, com temas como trabalho forçado, trabalho infantil, racismo e, mais atual que nunca, a eugenia. É absolutamente imperdível”, avaliou Suzane Schulz, gestora regional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem.

Leia mais: Webinar internacional abordará o acesso à Justiça no mundo contemporâneo
TRT-1 regulamenta atendimento aos usuários do PJe e do Sapweb
AMATRA1 vai reunir magistrados em conversa sobre futebol, no domingo (2)
O documentário resgata histórias que aconteceram cerca de 40 anos após a abolição da escravidão, que chocam pelas graves violações a direitos humanos de crianças negras, indicou Mônica do Rego. “Os fatos nos fazem refletir sobre a permanência, até os dias de hoje, de relações de trabalho com elementos muito semelhantes, em que os trabalhadores são desconsiderados como pessoas e submetidos à condição análoga à de escravo. É um documentário muito bem dirigido e produzido, que prende a atenção do início ao fim”, afirmou.
Segundo Eduardo França, já no início do filme é possível perceber que o período relatado foi o mais racista da história do país. O documentário evidencia o projeto eugênico implementado na época, fruto dos laços entre a elite brasileira e as ideologias nazistas.
“Era um projeto eugênico, que julgava o passado e o presente do Brasil, dos brasileiros e da ‘cultura brasileira’ (no singular) como degenerados e atrasados. Diante desta verdade pretensamente irrefutável, cabia, portanto, projetar o futuro partindo-se de outra base. Buscava-se civilizar a nação e o povo e, para tanto, era necessário excluir negros, índios e mestiços do novo Brasil que se projetava.”
O professor explicou que a “escória social”, como tais grupos foram definidos por nazistas, fascistas e integralistas, eram destinados ao trabalho mecânico e às margens sociais. “O projeto vigorou até que seus ideólogos saíram derrotados no fim da segunda guerra. Entretanto, nas perspectivas mental e histórica, aquele julgamento ignóbil permaneceu”, completou.
Live cultural da AMATRA1 sobre o documentário “Menino 23”
Data: sexta-feira, 31 de julho de 2020
Horário: a partir das 17h
Local: canal da AMATRA1 no YouTube e pelo Facebook