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‘Você não estava aqui’ retrata efeitos da prestação de serviço por aplicativos

‘Você não estava aqui’ retrata efeitos da prestação de serviço por aplicativos
Promessa de autonomia, jornadas exaustivas, pouco descanso e falta de direitos. Presente na realidade de trabalhadores do mundo todo, a precarização das relações trabalhistas intermediadas por aplicativos é o tema do filme “Você não estava aqui”, dirigido por Ken Loach e roteirizado por Paul Laverty. O longa estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27).

Ambientado na cidade Newcastle, na Inglaterra, o filme conta a história de Ricky Turner (Kris Hitchen), sua esposa, Abby Turner (Debbie Honeywood), e de seus dois filhos adolescentes. Para fugir do desemprego em meio à crise financeira, Ricky compra uma van para prestar serviços como motorista em uma empresa de entregas. “Você não trabalha pra gente. Você trabalha com a gente. Como tudo aqui, a escolha é sua”, diz um representante da companhia ao apresentar a proposta ao protagonista.

[caption id="attachment_27310" align="aligncenter" width="525"] Ricky Turner presta serviços para uma empresa de entregas. Foto: Joss Barratt[/caption]

Sem vínculo empregatício e exposto ao risco constante de penalizações, ele recebe por entrega realizada e tem sua produtividade controlada pelo aplicativo.

Assim como o marido, Abby também se desgasta para manter a renda familiar sem garantias trabalhistas. Ela trabalha como cuidadora terceirizada de pessoas doentes na modalidade “zero hora”. Neste tipo de contrato, o profissional só trabalha ao ser chamado pela empresa, recebendo apenas pelo serviço prestado. A jornada da personagem chega a 14 horas diárias, sem folgas.

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Em entrevista ao jornal “O Globo”, o diretor britânico contou que há algum tempo pretendia falar sobre o processo de “uberização”, como é conhecida a intermediação do trabalho por plataformas digitais. Loach, de 83 anos, afirmou se tratar de um “filme sobre o aumento da exploração e o que perdemos”.

“Quando você tem um emprego fixo, não pode ser mandado embora da noite para o dia, pode tirar férias e, se fica doente, ainda é pago. Quando mudamos da segurança para a insegurança, há consequências graves para as famílias, para a saúde mental das pessoas, para a felicidade. Está acontecendo com milhões e milhões de pessoas, e não falamos disso. Tratamos como se fosse um fato da natureza, e claro que não é. É um fato de um sistema econômico em que a ciência e a tecnologia não são usados para fazer a vida melhor, e sim para explorar as pessoas e dar lucro a algumas”, disse.

De acordo com Ken Loach, a tecnologia, quando controlada por empregadores, é usada a favor de seus próprios interesses — cortando custos de trabalho e produzindo mais lucros. “A ciência pode ser usada para coisas boas, como fazer as pessoas viverem mais. Mas, na indústria, é usada para explorar trabalhadores.”

Mas há esperanças, segundo Loach. E ela “está na raiva”, no entendimento de que o cenário atual de exploração da classe trabalhadora precisa ser transformado. “Nossa intenção era que o filme levasse o público a ver que isso é errado. Se as pessoas não sentirem algo forte com isso, nada irá mudar”, afirmou.

Veja o trailer do filme “Você Não Estava Aqui”:


*Foto: Divulgação