Dados do Ministério do Trabalho registram mais de 18 mil resgatados no Brasil entre 2015 e 2025
A presidenta da AMATRA1, Daniela Muller, chamou atenção, em entrevista ao jornal Extra, para o grave quadro de denúncias de trabalho análogo à escravidão no Brasil. Segundo ela, o problema tem raízes históricas que perpetuam uma realidade em que trabalhadores são mantidos em condição de inferioridade, enquanto seus exploradores obtêm ganhos econômicos abusivos. O alerta ocorre em meio à divulgação, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de que 18.618 pessoas foram resgatadas entre 2015 e 2025, sendo 1.866 apenas neste ano, em áreas rurais e urbanas.
De acordo com Daniela, apesar da legislação que criminaliza práticas como trabalhos forçados, jornadas exaustivas e restrição de locomoção, a violação de direitos tem sido contínua, contribuído para perpetuar injustiças. “Mais de cem anos após a abolição, persiste uma cultura que trata o trabalhador como de segunda classe”, afirmou a magistrada.
Dados do MTE revelam que, em 2025, 66% dos resgates ocorreram no meio urbano, com maior incidência em obras de alvenaria, fabricação de bebidas e cultivo de café. No trabalho doméstico, 18 pessoas foram encontradas em condições irregulares. Histórias levantadas pelo Extra, como as de Maria Santiago, de 77 anos, e Elza da Silva, de 80, mostram a vulnerabilidade de trabalhadoras que passaram décadas em residências do Rio de Janeiro sem salário e sem liberdade plena, até serem libertadas em operações de fiscalização.
Após o resgate, Maria e Elza foram encaminhadas para unidades da rede socioassistencial, onde receberam acolhimento e passaram a participar de atividades de fortalecimento de vínculos. Profissionais relatam que muitas vítimas chegam retraídas e com dificuldade de compreender a gravidade da situação vivida, o que exige acompanhamento contínuo para reconstrução da autonomia.
O auditor-fiscal Marcelo Campos destacou que a efetividade da fiscalização depende da precisão das denúncias. Ele enumerou que informações sobre localização, tipo de atividade e total de trabalhadores vitimizados auxiliam no direcionamento das operações.
A Secretaria municipal de Assistência Social ressaltou que os processos de reinserção deixam clara a importância de políticas públicas que assegurem não apenas a retirada de pessoas da situação de exploração, mas também ofereçam o apoio necessário para que elas retomem o convívio social e exerçam plenamente seus direitos.
Com informações do Extra.
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