Integrantes das cooperativas Cootrabom e CoopQuitungo, ambas na Zona Norte do Rio de Janeiro, relataram este mês à Agência Brasil que seguem atuando em condições precárias, sem espaço próprio para armazenar resíduos recicláveis e enfrentando discriminação mesmo após décadas de trabalho. Apesar de atenderem empresas e receberem materiais da Comlurb, os grupos afirmam que a informalidade e a falta de estrutura impedem avanços na organização do setor.
Criada em 2002, a Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom) coleta resíduos em empresas públicas, privadas e com apoio da Comlurb, realizando triagem e comercialização em Cascadura. Fundador do grupo, Luiz Carlos Santiago afirma que a renda mensal por cooperado gira em torno de R$ 1,6 mil, valor considerado insuficiente diante do volume de trabalho.
Já a CoopQuitungo, criada em 2005 por Maria do Carmo Barbosa de Oliveira na comunidade do Quitungo, em Brás de Pina, sobrevive com o apoio de um espaço cedido por uma igreja. Formada por mulheres, a cooperativa enfrenta limitações operacionais e teve sua equipe reduzida ao longo dos anos por falta de infraestrutura. Mesmo após adquirir um caminhão, a coleta continua sendo feita majoritariamente por mulheres, enquanto os homens dirigem o veículo.
Ambas as cooperativas apontam a ausência de galpões como principal entrave para ampliar suas atividades. Sem local fixo para armazenar os resíduos, os materiais muitas vezes ficam expostos em calçadas, o que compromete a operação e coloca o trabalho em risco. Trabalhadores também relatam casos de preconceito, sobretudo por associarem a coleta à população em situação de rua.
Segundo a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), o serviço de coleta seletiva atende atualmente 117 bairros do Rio, com recolhimento porta a porta em dias alternados à coleta regular. O material é entregue a 30 cooperativas, que atendem cerca de 450 famílias. A empresa informou que a média mensal de resíduos recicláveis recolhidos chega a 1.300 toneladas, incluindo a coleta feita por autônomos.
O trabalho dos catadores só foi reconhecido oficialmente em 2002, quando a atividade foi incluída na Classificação Brasileira de Ocupações. Estudo do Ministério do Trabalho aponta 3.848 registros formais no país, sendo quase 71% homens. Autônomos relatam jornadas superiores a 16 horas por dia, enquanto cooperados tendem a seguir o limite de oito horas com uma hora de intervalo.
Com informações da Agência Brasil - Foto de capa: CoopQuitungo/Divulgação.
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