Pesquisa do Instituto Datafolha com 2.004 pessoas em 136 municípios revelou que 67% dos brasileiros ainda preferem trabalhar com carteira assinada, mesmo que isso implique ganhar menos. O dado reforça a valorização do vínculo formal diante da precarização das relações de trabalho e da promessa de maiores rendimentos na informalidade.
Para o juiz do Trabalho Marcelo Segal, associado da AMATRA1, o resultado sublinha o papel estruturante da Justiça do Trabalho. “A carteira assinada continua sendo percebida como um símbolo de proteção e dignidade no trabalho”, afirmou. Segundo ele, a preferência pela formalização é também uma escolha social, que reflete o reconhecimento da importância da legislação trabalhista em um contexto de reformas flexibilizadoras.
O levantamento também investigou o desejo dos entrevistados em ser empregado ou trabalhar por conta própria — uma dimensão diferente, que envolve estilo de vida e autonomia. Nesse recorte, 59% disseram preferir o trabalho autônomo, enquanto 39% demonstraram preferência por ter um emprego fixo. A inclinação pela autonomia é mais acentuada entre os jovens de 16 a 24 anos (68%), enquanto, entre os maiores de 60 anos, a contratação formal ganha adesão de 50% dos entrevistados.
A pesquisa também apontou variações regionais na valorização da CLT. A preferência pelo vínculo formal é mais expressiva no Nordeste (69%), Sudeste (67%) e Sul (66%). No Centro-Oeste e Norte, o índice cai para 62%. Também há diferenças entre os gêneros: 71% das mulheres preferem trabalhar com carteira assinada, ante 62% dos homens.
A tendência de valorização da formalidade cresce entre os mais velhos, pessoas com menor escolaridade e faixas de renda mais baixas. Já a informalidade e o trabalho autônomo têm maior aceitação entre jovens, com mais anos de estudo e rendimentos mais altos.
Segal ressaltou ainda o papel da Justiça do Trabalho diante do avanço de novas formas de contratação, como o trabalho por aplicativos. “É justamente quando surgem novas dinâmicas laborais que a competência da Justiça do Trabalho se torna mais relevante, porque é nesse espaço que se dá a disputa sobre a existência ou não de uma relação de emprego”, afirmou. Para ele, o fortalecimento da Justiça especializada é fundamental para garantir que os direitos fundamentais não sejam relativizados em nome da eficiência ou da competitividade.
Apesar de ainda ser o modelo preferido, a ocupação formal perdeu força nos últimos anos: em 2022, 77% dos entrevistados optavam pela CLT. A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Com informações do Brasil de Fato - Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
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