01 de março de 2024 . 15:54
O legado de Sônia Sanches: uma jornada de determinação e coragem
Sônia Taciana Sanches Goulart foi uma mulher que desafiou normas sociais e enfrentou obstáculos em busca da igualdade de gênero nos tribunais no século 20. A trajetória da magistrada desafiou os padrões culturais de sua época, por ser independente e mãe solteira, enquanto construía uma carreira como procuradora e, posteriormente, juíza, a primeira juíza do Trabalho do Brasil. Em 2024, completam-se 20 anos do falecimento da magistrada.
“Ela é uma das mulheres juízas que estão inscritas na história da magistratura brasileira como pessoas de grande valor e que representam todas as mulheres da melhor forma possível”, afirma a magistrada Eliete Telles.
A pioneira é descrita pela juíza aposentada como uma jurista “muito além do seu tempo”. Segundo Eliete, as audiências dela eram leves, agradáveis, com respostas espirituosas que dissolviam qualquer situação mais complicada. Ela afirma que Sônia se posicionava e sabia lidar com que ultrapassasse os limites.
Eliete Telles conta uma situação inusitada em que um advogado demonstrava impaciência com a forma tranquila como a juíza conduzia a audiência. Ao perceber a insatisfação do advogado, Eliete narra a resposta da magistrada: “Não sou mocinha de romance de M. Delly (nome adotada pelo casal de franceses que escrevia livros românticos no final do século 19 e início do século 20). Eu tenho necessidades fisiológicas, por isso tenho que me levantar agora, está bom, doutor?”.
Sônia Sanches trabalhava como secretária aos 19 anos. No terceiro ano da graduação pela Faculdade Nacional de Direito, em 1937, ingressou no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (Iapi), onde construiu carreira como procuradora concursada.
Tomou a decisão de concorrer ao cargo de juíza do Trabalho em um período em que a posição era exclusivamente ocupada por homens. Desde o início da magistratura, Sônia Sanches não se conformou com os tradicionalismos impostos às mulheres. Em 1943, foi nomeada juíza suplente do Conselho Regional do Trabalho da 1ª Região. Ela rompeu com os padrões ao comparecer à cerimônia de posse vestida com uma camisa transparente e os lábios cobertos por batom vermelho.
Mesmo com competência e habilidades, ela não foi reconduzida ao término do mandato como juíza suplente, possivelmente por resistências e preconceitos enfrentados por ser “desquitada”, termo então usado para as mulheres separadas dos maridos.
Em 1956, Sônia foi aprovada no primeiro concurso público para juíza do Trabalho na 1ª Região, apesar das adversidades enfrentadas no processo. Na prova oral, ela enfrentou um interrogatório que durou três vezes mais do que o dos outros candidatos. Apesar dos títulos significativos, como o de procuradora do Iapi e o exercício do cargo de juíza suplente, seus méritos foram desvalorizados. Mesmo assim, foi aprovada, mas só pôde tomar posse como juíza substituta em 1960.
Sônia Sanches foi uma das fundadoras da AMATRA-1, primeira associação de juízes do Trabalho no Brasil. Sua contribuição para a diversidade e representatividade no sistema judicial inspirou gerações futuras de mulheres a seguir seus passos e a lutar por igualdade de oportunidades. Encerrou sua trajetória como juíza do Trabalho com a aposentadoria na década de 80. Ela faleceu em 2004.
Foto: Posse de Sônia Sanches como juíza suplente do Conselho Regional do Trabalho da 1ª Região / Revista “No Mérito” de 2018.
Leia mais: Saiba mais sobre Anna Acker, primeira presidenta da AMATRA1
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A pioneira é descrita pela juíza aposentada como uma jurista “muito além do seu tempo”. Segundo Eliete, as audiências dela eram leves, agradáveis, com respostas espirituosas que dissolviam qualquer situação mais complicada. Ela afirma que Sônia se posicionava e sabia lidar com que ultrapassasse os limites.
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Sônia Sanches trabalhava como secretária aos 19 anos. No terceiro ano da graduação pela Faculdade Nacional de Direito, em 1937, ingressou no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (Iapi), onde construiu carreira como procuradora concursada.
Tomou a decisão de concorrer ao cargo de juíza do Trabalho em um período em que a posição era exclusivamente ocupada por homens. Desde o início da magistratura, Sônia Sanches não se conformou com os tradicionalismos impostos às mulheres. Em 1943, foi nomeada juíza suplente do Conselho Regional do Trabalho da 1ª Região. Ela rompeu com os padrões ao comparecer à cerimônia de posse vestida com uma camisa transparente e os lábios cobertos por batom vermelho.
Mesmo com competência e habilidades, ela não foi reconduzida ao término do mandato como juíza suplente, possivelmente por resistências e preconceitos enfrentados por ser “desquitada”, termo então usado para as mulheres separadas dos maridos.
Em 1956, Sônia foi aprovada no primeiro concurso público para juíza do Trabalho na 1ª Região, apesar das adversidades enfrentadas no processo. Na prova oral, ela enfrentou um interrogatório que durou três vezes mais do que o dos outros candidatos. Apesar dos títulos significativos, como o de procuradora do Iapi e o exercício do cargo de juíza suplente, seus méritos foram desvalorizados. Mesmo assim, foi aprovada, mas só pôde tomar posse como juíza substituta em 1960.
Sônia Sanches foi uma das fundadoras da AMATRA-1, primeira associação de juízes do Trabalho no Brasil. Sua contribuição para a diversidade e representatividade no sistema judicial inspirou gerações futuras de mulheres a seguir seus passos e a lutar por igualdade de oportunidades. Encerrou sua trajetória como juíza do Trabalho com a aposentadoria na década de 80. Ela faleceu em 2004.
Foto: Posse de Sônia Sanches como juíza suplente do Conselho Regional do Trabalho da 1ª Região / Revista “No Mérito” de 2018.
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