24 de junho de 2022 . 13:51

Aposentadas, Ana Moraes e Mirna Macedo falam da carreira e novos planos

A afeição ao Direito ligado a questões sociais atraiu Ana Maria Soares de Moraes e Mirna Rosana Ray Macedo à magistratura do Trabalho. Neste ano, elas se aposentaram nos cargos de desembargadora e juíza titular, respectivamente, após décadas de dedicação exclusiva ao Judiciário trabalhista. Ao site da AMATRA1, as aposentadas falaram de suas trajetórias profissionais, das ambições para o futuro e da relação com a associação – à qual são filiadas desde o primeiro dia na magistratura.

Formada em Direito pela PUC-Rio, Ana Maria não se imaginava como juíza nos anos em que atuou em escritórios de advocacia e no departamento jurídico da Fundação Nacional do Material Escolar (Fename), ligada ao Ministério da Educação (MEC). Foi justamente pela inclinação para causas relacionadas à cidadania que ela passou a estudar para o concurso da magistratura trabalhista, tendo sido empossada no TRT-1 em outubro de 1981. “Nunca tive interesse em outros ramos da Justiça que não fossem ligados aos direitos sociais”, conta.

A magistrada julgou em diferentes varas da capital e da Baixada Fluminense até ser promovida à titularidade, em maio de 1988. Como juíza titular, esteve à frente das 17ª, 32ª, 44ª e 60ª varas do Rio; da 1ª vara de Niterói; e da 1ª vara de Araruama. Foi convocada ao Tribunal em 2001 e, em dezembro do ano seguinte, foi promovida à desembargadora.

Ana Maria Moraes conciliou a prestação jurisdicional com funções na administração do Tribunal

No decorrer dos 40 anos como magistrada, Ana Maria conciliou a prestação jurisdicional a cargos de administração no Tribunal: foi vice-corregedora, corregedora e vice-presidente, além de presidente da Comissão Executiva de Enfrentamento à Exploração do Trabalho em Condições Análogas à de Escravo e ao Tráfico de Pessoas e diretora do Centro Cultural do TRT-1.

“Os cargos que mais gostei de atuar foram os de corregedora e vice-corregedora porque gostava muito do primeiro grau. Sempre fui muito bem recebida. A realidade acontece no primeiro grau: é quando há contato com as partes e que sabemos quem é quem. Então, o período nessas funções foi profícuo profissional e pessoalmente, de muito crescimento, porque lidava com situações diversas ao que já conhecia, com as peculiaridades de diferentes regiões. Como corregedora, tinha como vice a desembargadora Gloria Mello e como juiz auxiliar, o André Vilella. Formamos uma parceria que funcionou muito bem”, destaca Ana Maria.

Inspiração em Aurora Coentro

Desde a época da faculdade, na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Mirna também se interessava pelos direitos sociais, mas atuou na área cível como advogada após a graduação. Chegou ao TRT-1 como analista em 1994, e foi só a partir do trabalho desenvolvido ao lado da desembargadora aposentada Aurora Coentro que passou a almejar o cargo de juíza – objetivo concretizado em 1997.

“Quando comecei a trabalhar como analista no Tribunal, fui direcionada para a Vara da Aurora Coentro, que sempre foi um norte para mim. Eu me encantava muito com o trabalho que ela fazia, por seu idealismo e pela forma como ela cuidava dos processos.”

Mirna Macedo atuou como magistrada do TRT-1 por 24 anos

Mirna foi promovida à titularidade em 2006, assumindo a Vara do Trabalho de Itaperuna. Meses depois, foi transferida para a 14ª vara do Rio de Janeiro, onde ficou até 2013. Sua última remoção foi para a 52ª vara da capital, local em que encerrou suas atividades profissionais em 8 de abril de 2022. As quase duas décadas e meia foram marcantes, afirma, pontuando que divide sua vida em “antes e depois do início da trajetória na magistratura”.

“Nesses 24 anos, só fui juíza, me dedicando integralmente ao cargo. Isso tem um lado positivo mas, ao mesmo tempo, é cansativo, pois o trabalho demanda uma atenção muito grande e gera estresse, já que estamos julgando a vida e o patrimônio dos outros, e nem sempre descobrir a verdade do processo é uma tarefa simples”, avalia.

Desafios

Entre os principais desafios enfrentados como juíza, Mirna indica a tentativa de conciliar a vida pessoal e familiar ao cargo, porque o trabalho jurisdicional “não se limita a oito horas diárias”. “Deitamos e acordamos juízes, pensando em processos e em soluções para os problemas e situações.”

Outros pontos destacados foram o compromisso de fazer o melhor e o conflito de saber se o que estava julgando tinha correspondência com a realidade e se o processo trouxe, de fato, a verdade para o julgamento. “Acho que todo juiz sofre com esse conflito, porque as ações não têm apenas números – têm pessoas, histórias, vidas”, acrescenta.

O comprometimento com a função também foi um desafio apontado por Ana Maria – além da timidez de falar em público, “enfrentada todos os dias, durante os 40 anos de magistratura”. “Sempre fui magistrada, e sempre quis ser comprometida. Em todas as varas e turmas pelas quais passei e quando estive na administração do Tribunal, procurei ser o mais comprometida possível. Meu compromisso com a Justiça era levar a sério a responsabilidade da minha função.”

Relação com a AMATRA1

A filiação à AMATRA1 acompanha as duas magistradas desde o primeiro dia de ambas na carreira. Mirna, que integrou três diretorias e admira o intenso trabalho desenvolvido pelos grupos de direção, vê a associação como uma fonte de acolhimento, onde buscou parceria e ajuda em diferentes momentos.

“E é assim porque a associação trata não apenas das questões corporativas, coletivas e individuais de seus associados, como também tem esse lugar do encontro, das amizades. A função da AMATRA1 é espetacular, e jamais me afastarei.”

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Para Ana Maria, o caráter agregador da entidade é um grande diferencial para a classe de magistrados. “Não tenho nada a reclamar, sempre me dei bem com todos os seus integrantes. A AMATRA1 luta pelos interesses dos juízes e desembargadores, e está sempre ligada aos assuntos externos também. Ela agrega pessoas e cria grandes vínculos de amizade”, diz.

Aposentadoria e futuro

Aposentada por tempo de serviço em 16 de maio de 2022, Ana Maria afirma ter sido pega de surpresa. “A previsão era de que a aposentadoria acontecesse apenas em junho, mas foi antecipada. Eu ainda tinha muito trabalho para fazer”, brinca. Os planos para os próximos anos, ela garante, não incluem temas diretamente ligados à magistratura. 

“Não quero trabalhar na área jurídica. Já cumpri minha cota de contribuição ao Direito nas últimas quatro décadas. Agora, quero fazer algo mais ligado ao trabalho social, mas ainda estou analisando o caminho a seguir. Não sei se vou conseguir, mas minha área de interesse é a formação de pessoas de comunidades, para que tenham uma profissão”, adianta.

Já Mirna amadureceu a ideia da aposentadoria por dois anos. Ela ressalta que a intenção de encerrar as atividades profissionais foi acentuada pela Reforma Trabalhista de 2017. “Ver despencar direitos trabalhistas e serem violadas questões constitucionais me trouxe um desgaste enorme. Além disso, já que não conciliei a vida profissional a mais nada, queria ter tempo para me dedicar a outras coisas. Então, juntei esse desestímulo com a necessidade pessoal de investir em outras funções.”

Por enquanto, ela está aproveitando o tempo livre para readequar a vida à nova realidade e estar próxima à família. Trabalhar advogando ou lecionando não está em sua programação futura; seu maior desejo é conhecer e se aprofundar em novos assuntos. “Quero estudar, fazer minhas leituras que gosto muito. Viajar, fazer trilhas e outras atividades totalmente diferentes do Direito. Gosto muito de filosofia e psicanálise, mas apenas como estudante, para adquirir conhecimento nessas áreas. Minha intenção é viver, na prática, o ócio criativo”, conclui Mirna. < VOLTAR